Você precisa sair do casulo, ele
me disse. Eu tive que concordar, embora levasse bem uns 20 segundos para
engolir a mensagem e mais uns 3 meses para organizar... Reorganizar algumas ideias
e TENTAR (sim, prestem atenção nessa palavra) exprimi-las. Entre concordo e não concordo foram semanas e
semanas de processamento de dados (eu sei q sou quase um ENIAC!), mas cá estou.
Com casulo ou sem casulo?
Casulo: 1 Envoltório que as
larvas do bicho-da-seda e de outros insetos holometabólicos constroem, dentro
do qual sofrem a metamorfose; CRISÁLIDA. 2 Construído pela larva dos insetos
holometábolos, no interior do qual ela se transforma em ADULTO, depois de ali
passar a fase de pupa. 3 Lugar onde se vive.
Confesso que ouvir essa frase não
me espantou tanto. Há meses eu vinha me questionando sobre quem eu sou, de onde
vim, para onde vou, quem quero ser e todas essas perguntas idiotas que todos
fazem desde que e entendem por gente quando se encontram perdidos em crises
existencialistas;
“Uma baleia ganha vida várias
milhas sobre a superfície de um planeta alienigena. Não é uma posição natural
pra uma baleia, já que essa inocente criatura terá pouco tempo pra encontrar
sua identidade. Eis o que ela pensou enquanto caia:
"Ei, o que está acontecendo?
Quem sou eu? Por que estou aqui? Qual é o meu propósito na vida? Como assim
quem sou eu?
Certo. Controle-se...Que sensação
interessante! São cócegas na minha...tenho que começar dar nomes as
coisas...vou chamar de... cauda! E que som é esse passando rapidamente pelo o
que eu vou chamar de...minha cabeça? Vento é um bom nome? Acho que serve. Que emocionante! Estou tonto
de tanta euforia! Ou será que o vento? Está
ventando muito. E o que é aquilo se aproximando rápido de mim? É tão grande e
plano...precisa de um nome forte!
Ão...Cão...Chão! É isso! Chão! Será
que quer ser meu amigo? Olá, chão!"
PUF! – Guia do mochileiro das galáxias.
As vezes sou o que não mostro. Ou
será que é ao contrário? Não mostro o que sou. E isso faz de mim uma lagarta.
Uso um casulo para me proteger. E porque seria diferente? E porque não? Tudo me
machuca, tudo me atinge, tudo me transforma, me metamorfoseia (rapaz, que
palavra bonita!). Não aprendi e não sei se um dia vou aprender a me manter
indiferente a SENTIMENTOS, a pessoas, a situações (E olha q eu tento com veemência!).
Meu casulo é minha proteção, minha
mascara, minha forma de transparecer não sentir algo que eu sinto, que eu tenho
medo de sentir. Eu sei... É estranho. Mas quem é mais sentimental que eu?
Uma vez vi um casulo e o observei
por um tempo, enquanto sua moradora laranja com riscos pretos tentava sair. A
fase de reclusão de uma lagarta não deve ser fácil. Afinal de contas deve ser
bem apertado, escuro e quente ali dentro (imagine se ela for claustrofóbica!).
E então ela quer sair, ainda não totalmente pronta, porque o maior desafio será
esse, de se libertar, e ainda mais no movimento urbano, onde sempre haverá um
tolo que acha q pode ajuda-la. Abre o seu casulo e a mata. Esquenta seu casulo
e a mata. Comete um crime culposo para com a lagarta que a tanto tempo esperou
por esse momento de libertação, e a mata. A lagarta quer amar e a sufocam:
invenções, mentiras, criticas, falsidade, indiretas. Fazem com que ela saia um
pouco de seu casulo. E então a matam!
Quem não possui um casulo que
atire a primeira pedra. Falar o que pensa ou, no caso, não falar é um casulo.
Não amar é um casulo. Fingir, ignorar, disfarçar, etc. Quem pode nos culpar por
usarmos de proteção contra os possíveis males aí fora; Olhando por outro lado
aqui dentro é tão quentinho, é silencioso, é seguro. É só seu. E ali dentro
você pode ser o que você quiser. Inclusive nada!
Lembro-me como se fosse hoje,
sentada no canto de uma parede cinza. O professor de história contava uma
história, o relógio fazia um barulho imperceptível, todos fingiam que estavam
escutando enquanto meu pensamento pairava por algum lugar. Uma borboleta sentou
na cortina e uma amiga disse pra ela: vai, borboletinha, voe. E ela foi...
Foi... Foi de encontro ao ventilador que cortou seu barato, literalmente, pois
a sua asa se fora. Será que é isso que acontece com nós, borboletas? Eu quero
voar, mas tenho medo de altura, ou a vida me corta a diversão. Então não resta
nada além do que voltar para o casulo.
Não ser de fato uma borboleta tem
suas vantagens. Meu casulo pode ser perceptível ou não. Pode ser material ou
não. E o principal. Dá pra sair e voltar pra lá quantas vezes quiser. Não é,
realmente fácil se desapegar dele, afinal, são tantas pessoas pra agradar,
tantas línguas afiadas prontas para te condenarem. Tantos certos e errados.
Moral, costumes, doutrinas e dogmas. Tantos “e o que vão pensar”. Isso também
faz com que a borboleta se feche, que se tranque, que tenha medo. Porém, vez ou
outra ela se sente segura com sua metamorfose, e sai. E então é a hora de
observa-la realizar o que tanto lhe foi privado. É hora de conhecer o novo, de
ver um novo mundo, uma nova cor, novos ares, ar... Vê-la voar... E não é que é bonito?
"Ah.. Dindin.. Se tu soubesse
Como machuca
Não amaria mais ninguém.."
Cícero
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